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As revistas estão mortas. Longa vida às revistas!

As revistas vão sobreviver e prosperar porque nunca fomos tão preguiçosos e nunca estivemos tão ocupados. Porque a vontade de consumir informação e entretenimento de formas cada vez mais rápidas e sofisticadas não pára de crescer. Porque, cada vez mais, queremos só o que nos interessa e esteja adaptado ao nosso estilo de vida.

Somos demasiado comodistas e em breve exigiremos que alguém se ocupe do busy work por nós. Mais do que nunca.

Diagrama

Nunca houve tanta coisa a gritar pela nossa atenção. Mas também nunca tivemos tão pouco tempo para fazer o que gostamos. Mil e um afazeres sobrecargam os nossos dias. Um ou mais empregos, faculdade, família, amigos, etc. Os novos estilos de vida garantem que nunca estejamos ou possamos estar parados muito tempo no mesmo sítio. Estamos sobrecarregados, mas continuamos a querer estar ligados e a consumir conteúdos.

Os novos dispositivos móveis são objecto de cobiça porque nos permitem essa ligação e ainda ficar a par da next best thing, seja ela qual for. Não é tanto uma questão de especificações técnicas, processadores ou memória (e é por vender tecnologia que as tablets Android falham) como é uma questão de «com isto posso ver vídeos, ouvir música, falar com os meus amigos e não perder nada do que se passa no mundo». É uma questão de entretenimento.

There's an App for that

A Web? Essa é uma enorme confusão. Navegar já não é tão empolgante como costumava ser. Hoje estamos mais interessados em encontrar. Não temos tempo nem paciência para navegar pelas profundezas da Web. Somos attention whores numa attention age. Queremos resultados imediatos, queremo-los já, para ontem e sem ter de recorrer à Web.

Daí o sucesso das aplicações móveis dos smartphones, tablets e até dos PCs (vejam a Mac App Store). Elas ensinaram-nos que é possível consumir conteúdos de formas mais rápidas e eficazes. Ensinaram-nos que é possível não perder nada daquilo que nos interessa mesmo que estejamos mais ocupados do que nunca. E elas ensinaram-nos a ser preguiçosos, a optar pela conveniência de encontrar em vez de procurar.

Navegar é uma seca

A nossa crescente preguiça e falta de tempo levará ao surgimento de uma nova geração de revistas (digitais).

Quando os smartphones e tablets se disseminarem quereremos não só rapidez, informação e entretenimento, como a rapidez, informação e entretenimento certos. Quereremos gastar o nosso pouco tempo livre de forma útil, consumindo informação e entretenimento que nos recompensará. Quereremos alguém a ocupar-se do busy work por nós para filtrar exactamente aquilo que nos interessa e de forma personalizada. Quereremos revistas.

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O que têm em comum os Slayer e a Apple?

Ontem juntei-me aos cabeças de metal do país para assistir ao concerto dos Slayer no Pavilhão Atlântico. Quem lá esteve saiu de barriga cheia, e é bem provável que também tenha gostado imenso do espectáculo. Bom, de qualquer forma não pretendo com este post fazer uma crítica ao vigor com que esses duros despertaram tamanhas emoções aos presentes. Mas ocorreu-se-me uma coisa.

Os Slayer

Muitas empresas podiam aprender imenso com os Slayer.

Os Slayer, para quem não sabe, são uma banda de thrash metal (aquilo que os Metallica costumavam tocar) que teve origem no início dos anos 80. E há 30 anos que praticam exactamente o mesmo tipo de música e cantam sobre exactamente os mesmo temas: sangue e tripas, guerra, religião, satã, etc. Qualquer música dos Slayer podia perfeitamente estar em qualquer um dos onze discos que eles já editaram e ninguém se queixava.

Há uma boa razão para isto.

Eles concentram-se naquilo em que são bons (e eles são realmente muito bons naquilo que fazem) e estabelecem assim uma identidade inconfundível. Os Slayer são das poucas bandas ditas pesadas que têm o respeito do mais variado tipo de audiófilos. A banda adquiriu uma enorme notoriedade sem muito tempo de antena ou visibilidade em canais de televisão, mas eles têm algo a seu favor: bom senso e bom gosto. Por muito que a música dos Slayer tenha sempre o mesmo estilo ela é sempre boa. E não mexe mais!

U Can't Touch This

A Apple do Steve Jobs faz o mesmo na sua área. Na sua darkest hour (os Megadeth também actuaram ontem) a empresa chegou a desenvolver câmaras digitais, leitores de CD, consolas de videojogos e até impressoras, mas acabou por perceber que ir a todas não era boa política. Hoje, a Apple vende um pequeno número de produtos, exerce uma enorme influência no entretenimento e é uma das maiores e mais lucrativas empresas do mundo. Como os Slayer, a Apple concentra-se naquilo em que é boa.

Também as publicações, sites de notícias e afins têm a ganhar caso se dediquem a fazer aquilo em que são bons. O jornalista americano e autor do livro “O Que Faria o Google?”, Jeff Jarvis (o seu blogue, aqui), colocou-o da seguinte forma: «Cover what you do best. Link to the rest». Mais publishers deviam aplicar esta regra no seu dia-a-dia. Mais facilmente estabelecem uma identidade e mais facilmente se destacam se o fizerem.

Concentrem-se naquilo em que são realmente bons. Só terão a ganhar com isso.

E agora, um vídeo dos Slayer.

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