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Os Mortos Caminham – As arcades em Portugal e no mundo

Publicado originalmente na BGamer nº167, Junho 2012.

2ª Parte

3ª Parte

Em Portugal existem agora dois tipos de jogadores: os que se lembram de jogar nas arcades e os que nasceram depois das moedas de 50 escudos. Porque morreram as máquinas de jogos arcade – e será que podem voltar?

Utilizar consolas para competir online no conforto do lar é um ritual partilhado por milhões de jogadores do mundo ocidental. Habituámo-nos desde cedo a usufruir das potencialidades online das plataformas em voga no mercado e a tendência transformou-se em costume: jogar online é um processo cada vez mais sofisticado e já não conseguimos viver sem a conetividade das nossas consolas.

O desejo de estar ligado é uma característica transversal a todas as sociedades tecnologicamente desenvolvidas. A tecnologia pode encorajar experiências partilhadas. Ótimo! Exceto para um pequeno problema: os jogos competitivos online trazem ao de cima o pior da humanidade. Em que outra situação pode um jovem atirador do novíssimo Call of Duty, Mass Effect ou Halo insultar um jogador (e três gerações da sua família) por mau desempenho? Provavelmente em nenhuma. Ele fá-lo porque pode; a experiência é anómima, impessoal e nada ou ninguém o pode impedir de convidar as mães dos outros para jantar. Já dizem os mais velhos: “no meu tempo é que era bom – jogávamos todos lado a lado nas máquinas arcade.” Velhos senis, as arcades estão mortas.

Arcades ligadas às máquinas

Continuavas a ir ao cinema se os filmes fossem os mesmo de há uma década atrás? Consumias música se as velhas glórias dos 90s ainda estivessem nos Tops? É provável que não. O que se passa hoje com o negócios das máquinas arcade em Portugal é uma situação clássica do ovo e da galinha: se por um lado os jogadores salvam os seus euros da milésima volta por Daytona ou de mais uma peladinha no Virtua Striker, por outro os salões de jogos ainda em funcionamento não estão interessados em fazer power-up à sua oferta. É um dilema, com a agravante de que os salões de jogos são hoje na sua maioria espaços mal frequentados, escuros e fumarentos, ou seja, santuários de delinquência. Por este andar, até as sobras desta cultura vão desaparecer. E porque não?

“No meu tempo é que era bom – jogávamos todos lado a lado nas máquinas arcade.” Velhos senis, as arcades estão mortas.

Já houve uma altura em que os jogos arcade eram a referência da indústria; representavam o pico daquilo que era possível fazer com videojogos. Era nas arcade que encontrávamos os melhores gráficos e a jogabilidade mais precisa. Quando um jogo arcade era adaptado para as consolas, os jogadores e as revistas de especialidade mediam a sua qualidade pela competência em replicar a versão original, a sua arcade perfectness. Hoje não se faz essa distinção. As consolas estão no centro das atenções de fabricantes, produtores e jogadores. Os jogos evoluíram para lá do high score, time attack ou tempo limite, e as consolas passaram a oferecer tudo o que os salões têm e mais além. A chegada ao mercado de plataformas como a Dreamcast, que foi pioneira naquilo que conhecemos como online gaming em consolas, e a Xbox, cujos disco rígido integrado, Xbox Live e comunicação por voz propagaram a cultura de jogar online, deram a machadada final nas velhas arcade.

Vamos Todas Morrer Uma Morte Horrível

Podem as arcades voltar num mundo de shooters, jogos sociais e iPhones? As calças boca de sino e óculos à aviador também voltaram e eu não queria acreditar. A questão é que há méritos em jogar nas arcades – nós só ainda não os conhecemos.

As pessoas saiem de casa para se divertir. É assim tão descabido acreditar num futuro próspero para as máquinas arcade se existissem motivos para nelas gastarmos o nosso dinheiro? É provável que estejamos agora mais recetivos do que antes para encher as caixas-fortes das máquinas já que a explosão dos smartphones e tablets pelas massas veio também provar que as pessoas gostam de jogos simples, repetitivos e pouco envolventes. O efeito bola de neve adensa-se: os salões de jogos degradam-se e fecham portas por falta de clientes, e os jogadores ficam em casa a jogar nos seus televisores de alta resolução. Mas e se satisfizessem condições como máquinas de jogos com configurações impossíveis de replicar em casa e salões de jogos convidativos? A tecnologia já existe e uma das tendências para os próximos anos é a das aplicações móveis que procuram juntar as pessoas no mesmo espaço baseado na localização e interesses.

Mas e se satisfizessem condições como máquinas de jogos com configurações impossíveis de replicar em casa e salões de jogos convidativos?

O que é preciso, afinal, para uma nova era dourada das arcades?

Uma Nova Era Dourada

Alguém tem de dar o primeiro passo. É hoje mais fácil dar o pontapé de saída a um projeto de sonho graças a sites como o Kickstarter ou o português PPL. Permanece a dúvida se existem empreendedores dispostos a abrir salões bem localizados e de fácil acesso, decorados à imagem das atuais preferências do público-alvo, apetrechados de tecnologia incluindo Wi-Fi gratuito e interação proveniente de parcerias com sites como o Foursquare e o Groupon e, acima de tudo, munidos com o último grito das máquinas arcade (se bem que para isso teria de haver um esforço redobrado para localizar os casos de sucesso do Sol Nascente, onde a cultura de jogo face-a-face persiste, e doutros mercados que mostram sinais de uma paixão renovada pelas máquinas como a China e o Reino Unido).

Custa-me a acreditar que um medium com potencial como é o das arcades desapareça sem deixar rasto e também não acredito que, uma fez satisfeitas as condições de que falei, os jogadores e novos jogadores (pessoas para quem o Angry Birds foi a sua primeira experiência com videojogos) fiquem indiferentes às máquinas. É tudo uma questão de saber vender os méritos desta outra forma de jogar e consumir entretenimento.

A pergunta agora é: o que é que vais fazer em relação a isto?

Continua no fim-de-semana com roteiro das arcades e textos sobre as novas máquinas e o caso japonês

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